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                   Picadilly Circus - www.tripadvisor.com.br 
                    
                  REVISITANDO  A INGLATERRA 
                    29.08.1987 
                    
                  Regresso  à Inglaterra, onde conquistei, com um prêmio ao final, o meu diploma de  Mestrado, na Loughborough University. 
                    Voltei a Londres em 1987, seguindo viagem para Brighton, com um degradê de  flores silvestres, e os bosques (reflorestados), numa sequência de verdes  luxuriantes! 
                    Mas a Europa está desolada por uma inusitada onda de calor, que já matou gente  na Grécia e na Itália. Nas proximidades do aeroporto La Barajas, da meseta  madrilenha, o espetáculo era de um agreste mediterrâneo. Mas na Inglaterra,  terras das chuvas permanentes, tudo era verdor e frescor. 
                    Londres continua como sempre. Quase nada mudou em sua aparência discreta. Se  não fossem as vitrines das lojas mostrando novos produtos japoneses e a sua  juventude ostentando roupas sempre mais extravagantes, eu diria que é a mesma  Londres que eu deixei há 10 anos atrás. 
                    A mesma sobriedade de seus edifícios vitorianos, os mesmos “pubs” e lojinhas de  bairro, mesma multidão de povos exóticos, os mesmos fanáticos de futebol  ameaçando a tranquilidade provinciana de seus “borougs” (bairros). 
                    A vida cultural é sempre variada e de bom nível  
                    Fui ao “Old Vic” assistir a uma versão musical de “Megera Domada” de  Shakespeare, com música de Cole Porter. 
                    Fantástico. Espetáculo profissionalíssimo, para o gosto do grande público, mas  impecável! Grandes interpretações, coreografia excelente, direção correta,  vestuários e cenários exuberantes, nada revolucionário, mas tudo perfeito  (karmonic!!!). Um grande show para os olhos, um momento de prazer  indescritível. 
                  Do Old  Vic saímos para um típico “pub”, nas vizinhanças, para tomar uma daquelas  cervejas inglesas mornas, com tortas de verdura. Eu era convidado de uma amiga  brasileira que não via há 20 anos!, a vereadora e bibliotecária Ludmilla Popov,  agora Mayinque da Veiga, e sua sobrinha que estuda cinema em Paris. Como de  costume, soou logo o gongo avisando que não mais iriam vender bebidas  alcoólicas. À meia-noite quase tudo fecha em Londres, e em toda a  Inglaterra.  São poucos os lugares com  licenças especiais para vender bebida ou servir comida, durante a madrugada. 
                    Nas bancas de jornais estava à venda um sugestivo cartão-postal, todo negro [eu  ainda era “cartofilista”...], com a legenda “London by Night”.  
   
                    Voltamos para o hotel num daqueles taxis negros, que são únicos no mundo. Revi  muita gente conhecida, de outras andanças... Amigos latino-americanos (da  Colômbia, da Venezuela, de Cuba, do México e do Perú, países por onde já  andei...), mas também conheci bibliotecários da Nigéria, da Jamaica, das  Filipinas, de toda parte... 
                    No pré seminário que eu assisti na Library Association, éramos 50 “experts de  35 países”! Eu estava nervoso porque os meus amigos latino-americanos não se  saíram bem em suas apresentações, em parte pelo uso precário do Inglês e da  inabilidade tradutora. Mas, felizmente, a minha apresentação foi um grande  sucesso. Reescrevi o texto original para adaptá-lo às circunstâncias, a partir  do “feeling” e o resultado foi extraordinário. Houve quem o considerasse o  melhor... Não sei se por méritos próprios ou pela inferioridade dos demais  trabalhos, que eram bons mas nada surpreendentes.  
   
                    Meu amigo Russell Bowden, “deputy-librarian” da Library Association, hospedeiro  do evento, meu ex-orientador (da minha dissertação de mestrado) e amigo  pessoal, estava entre exultante pelo meu sucesso e aliviado do temor de um  insucesso... 
                    Em Brighton, no congresso da IFLA, o quadro era ainda mais cosmopolita. Eram  3.000 bibliotecários, de mais de 150 países! A Torre de Babel! 
   
                    A praia estava cheia de turistas sobre suas pedras roliças. O velho “pier”  vitoriano estava fechado para recuperação dos danos causados pela maresia e  exuberante Palácio de Verão dos reis — uma construção bizarra, em pseudo estilo  indiano ou orientalista, que estava em reforma.  
                    Assistimos a um concerto de música clássica na “Dome”, um teatro junto ao  Palacio de Verão. A senhora regente deleitou a platéia internacionalíssima, com  Mozart, Brahms e impôs um poema sinfônico de Brittain, um tanto pesado e  destoante com a leveza clássica das demais peças musicais.  
   
                    Já estive em Birighton, há dez anos atrás. Mas, naquela oportunidade era a  baixa estação, chovia e fazia bastante frio... Desta feita encontrei a cidade  entupida de turistas, com todo o seu esplendor demodée.  E aproveitei para comprar muitos cartões-postais  brasileiros, do início do século, em uma “postcard fair” realizado no Hotel  Madeira, no primeiro domingo. 
                    Esta viagem ao passado foi um “replay” de minha vida. Revi as estações de trem  que eu conhecia, o Picadilly Circus que agora está invadido de “punks” (movimento  cultural e musical de contestação)  e  assemelhados dos cinco continentes, os seus parques floridos, suas galerias e  museus de arte, aquelas ruas ordeiras que nem lembram a metrópole que é  Londres.  
   
                    E no subsolo profundo de suas velhas linhas de metrô em que trafega o grande  público, com os músicos brasileiros nos corredores das velhas e soturnas  estações. 
   
                    Londres é discreta e extravagante, conservadora e vanguardista ao mesmo tempo,  tradicionalista e internacionalista, uma espécie de cenário de época em uma  atmosfera de modernidade. É provinciana e cosmopolita a um só tempo. Única, sem  dúvida.     
                
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